terça-feira, 14 de julho de 2009

O Crack se espalha e vira epidemia



Combate ao trafico de dogas em Feira de Santana
Em matéria feita pelo repórter Alan Rodrigues, divulgada na edição desta terça-feira (14), no Jornal Correio da Bahia mostra o misto de brutalidade e frieza demonstrado por Diogo Bispo de Jesus, preso no último domingo (12), depois de assassinar pai e mãe e ocultar os cadáveres por três dias, pode ser explicado pela dependência do crack. Usuário da droga, ele é mais um a engrossar o exército de dependentes que cresce assustadoramente no Brasil.

Comportamentos como o apresentado por Diogo não surpreendem quem trabalha no estudo e combate à dependência química. Versão mais potente e letal da cocaína, o crack desafia o sistema de saúde pública no Brasil. 'Essa droga afeta regiões do cérebro muito primitivas', revela o psiquiatra gáucho Félix Kessler, vice-diretor do centro de pesquisa em álcool e drogas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro da Associação Brasileira de Estudos sobre Álcool e Drogas (Abead).

Traficantes presos pela DTE de Fira de Santana

Kessler foi o coordenador de uma pesquisa realizada em Salvador, São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro, que registrou a evolução do número de casos nessas capitais. Segundo a pesquisa, o Brasil está vivendo uma 'epidemia de crack'.

Prova disso pode ser vista nos dados da Polícia Federal. Entre 2006 e 2007, o volume de crack apreendido no país saltou de 145 kg para 578 kg. Segundo Kessler, quando o indivíduo se torna dependente do crack, a droga passa a ser prioridade e as decisões são tomadas acima da razão. “Agimos como os animais”, explica Kessler.

Isso porque o efeito da pedra de crack no organismo é muito mais devastador que o de outras drogas, como a própria cocaína, matéria-prima do crack. “A cocaína já é potente e ingerida por via pulmonar chega muito rápido aos receptores cerebrais”.

O pesquisador aponta uma série de fatores para a disseminação do crack no Brasil. Entre eles, a repressão deficiente, a elevação do poder aquisitivo que retém a cocaína antes exportada no país, a fronteira com os três principais produtores da droga no mundo (Bolívia, Colômbia e Peru), além da já desgastada questão da desigualdade social.

Traficante morto na briga por ponto de drogas em Feira de Santana

Kessler rebate a tese de disseminação do crack em todas as classes sociais.“Pessoas da classe média alta que usam crack têm problemas familiares ou psiquiátricos”, afirma.

Félix Kessler aponta como principal dificuldade para a estruturação de uma política eficiente de combate ao crack a falta de integração entre os diversos projetos existentes. “O governo federal tem investido muito em repressão, tratamento, prevenção e reinserção de usuários”, atesta.

Armas, droga e dinheiro apreendidos pela DTE de Feira de Santana
“Mas a impressão inicial é demuita dificuldade em organizar esses tratamentos, estamos treinando pessoal, mas não existe um bom protocolo de tratamento do crack no Brasil”, critica.

Experiências desenvolvidas em outros países, como Chile e Espanha, mostram que é possível enfrentar o problema de forma mais eficaz. De acordo com Kessler, nesses países as informações dos usuários são centralizadas e o tratamento segue a mesma orientação, do início ao fim.

“O usuário tende a passar por várias clínicas, mas na Espanha, por exemplo, a cada internação, o médico responsável por aquele usuário é contactado e o tratamento segue a mesma rotina”, explica o psiquiatra, que destaca a importância de uma rede integrada para oferecer esse nível de atendimento.

Degradação

Além dos distúrbios psíquicos, o crack compromete toda a saúde do usuário. O órgão mais afetado pelo consumo da pedra, obviamente, é o pulmão, que recebe diretamente a fumaça inalada.

Os males provocados pela pedra atingem ainda o cérebro e comprometem todo o sistema cardiovascular. O resultado são infartos, derrames cerebrais, pneumotórax (colapso do pulmão) e crises renais provocadas pelo aumento da pressão arterial.

Atualmente, Félix Kessler desenvolve uma tese de doutorado que pretende formatar um novo procedimento de diagnóstico dos dependentes de crack. O ASI-6 (addiction severity index), ou índice de severidade da dependência, pretende estabelecer parâmetros para avaliar o grau de comprometimento do usuário de drogas, do ponto de vista familiar, legal, jurídico e também médico.

No futuro, a proposta do psiquiatra é que o ASI seja utilizado na rede pública. Por enquanto, esse método de avaliação está disponível apenas em algumas clínicas privadas do Sul e Sudeste. “É um questionário muito longo”, justifica Kessler.

Venda a poucos metros de Batalhão

Por volta das 16h de segunda-feira (13), a equipe de reportagem do CORREIO registrou o tráfico de drogas na Rua Guedes de Brito, uma das ligações entre o Pelourinho e Baixa dos Sapateiros. Sem temer a presença de policiais do 18º Batalhão, instalado a poucos metros dali, os “sacizeiros” - termo usado de forma pejorativa pela polícia para definir os dependentes do crack - se aglomeravam sob as marquises dos sobrados abandonados.

Adultos, jovens e crianças brigavam entre si quando uma mísera pedra (vendida a R$ 5) era deixada cair ao chão. Na “bruxa” (estágio de abstinência), alguns chegavam a fazer a tal da “raspagem”: a sobra era misturada a pequena quantidade de álcool e queimada novamente. “A ‘onda’ é duas vezes maior”, atestou uma estudante.

Viciado é acusado de matar os pais Diogo Bispo de Jesus, 27 anos, foi preso na madrugada de domingo acusado de matar a facadas a mãe Solange de Jesus e o pai Diogenes Bispo de Jesus, na última quarta-feira, na Barroquinha.
Ele escondeu os corpos no quarto do casal, mas, somente no sábado, os vizinhos desconfiaram do forte mau cheiro que começou a exalar da casa.

Segundo moradores, era comum ouvir barulho de brigas, pois Diogo é viciado em crack e costumava bater nos pais exigindo dinheiro. A crueldade do crime aterrorizou os moradores da Rua Visconde de Ouro Preto, onde ele residia com os pais, no Centro Histórico.

“Fiquei em estado de choque com a frieza de Diogo, que entrava e saía da casa como se nada estivesse acontecendo”, afirmou a ambulante Marizete Mendes dos Santos, 33, que mora no andar superior do sobrado onde o crime aconteceu.

Segundo ela, os moradores do bairro estranharam quando ele começou a vender utensílios da casa, na quinta-feira. O delegado Omar Andrade Leal, titular da 1ª DP (Barris), autuou Diogo em flagrante por ocultação de cadáver, e disse que são fortes os indícios de homicídios duplamente qualificados.

Posta por Jorge Magalhães

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