Diálogo transmitido com exclusividade na segunda-feira (13) pelo programa Fala Bahia, da Bahia FM, comprova que a polícia baiana sabia desde 2008 da existência de toque de recolher em bairros dominados pelo tráfico em Salvador.
Segundo o apresentador Emmerson José, colunista do CORREIO, a conversa foi gravada através do sistema de áudio da Central de Telecomunicação das Polícias Civil e Militar (Centel). “Através do Disque-Denúncia, chegou à Centel, neste momento, (uma informação) dizendo que no Engenho Velho de Brotas, no Largo dos Artistas, traficantes deram toque de recolher aos comerciantes.
Comércio local está sendo fechado, pois os mesmos pretendem fazer um arrastão no local. QSL? (no jargão da radiocomunicação, a sigla significa ‘entendido’)” , diz um policial da Centel, no áudio datado de 24 de julho do ano passado.
Uma policial, também da Centel, reforça o alerta: “Viaturas em circulação que ouviram amensagem”. No mesmo instante, é interpelada por um agente da Civil. “Por gentileza, repetir (o aviso), por que a voz do colega tá difícil de entender”.
Em seguida, a mesma policial repete que há um toque de recolher e mandamento no bairro e reforça que os bandidos ordenaram o fechamento de estabelecimentos para promover um arrastão no local. O áudio enviado à redação do programa é interrompido nesse momento.
Não há informações que sugiram a existência de atividade policial para coibir a suposta ação dos traficantes, e nem se, de fato, o toque de recolher foi levado a cabo.
Visita ao bairroNa noite de segunda-feira (13), o secretário de Segurança Pública, César Nunes; o delegado-chefe da Polícia Civil, Joselito Bispo, e o diretor do Departamento de Polícia Metropolitana, Rui da Paz, visitaram o Engenho Velho de Brotas, acompanhados por cerca de dez policiais.
“Ouvi dizer que a imprensa noticiou o toque de recolher aqui e resolvi verificar. Como pode se ver, não há nada disso”, disse Nunes. Informado de que o áudio se referia a um diálogo ocorrido em 2008, Nunes foi taxativo: “Do ano passado? E só agora é que vieram divulgar isso?”.
Já Bispo, que desde a época comanda a Polícia Civil baiana, assegurou que nunca houve toque de recolher no bairro. O secretário voltou na segunda (13) a negar que existam áreas dominadas pelo tráfico em Salvador, onde a polícia não consiga entrar e os moradores sejam obrigados a viver sobre as ordens dos bandidos.
“É preciso desmistificar essa história de toque de recolher. É claro que existe violência, que há lugares onde ela é maior, mas isso não significa que exista esse tipo de ação em Salvador”, assinalou.
Nunes disse que grande parte da violência no estado, hoje, é causada pelo aumento do tráfico de drogas, sobretudo o crack. Segundo ele, a forma de venda do subproduto da pasta de cocaína é mais “pulverizada que as demais, e isso dificulta o combate'.
(notícia publicada na edição impressa do dia 14/07/2009 do CORREIO)
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