sábado, 15 de agosto de 2009

Oito pessoas foram mortas por assassinos em motocicletas na “Princesa do Sertão”

Na manhã de 24 de julho, a morte espreitava Bernardino Alberto Cerqueira Figueiredo montada sobre duas rodas. Minutos após ele chegar a uma oficina mecânica no bairro Jardim das Acácias, uma motocicleta avança em sua direção.

Os dois ocupantes sacam pistolas e disparam vários tiros, quase todos certeiros. Bernardino tomba. Havia virado mais uma vítima da nova classe de assassinos de Feira de Santana: os motocidas. A expressão vem sendo usada por policiais da cidade para designar pistoleiros que usam exclusivamente motocicletas nas ações de execução.

Somente nos sete primeiros meses do ano, os motocidas foram responsáveis por 54 dos 177 assassinatos cometidos em Feira, oito deles em julho. “O modus operandi deles é sempre o mesmo: dois indivíduos armados chegam montados em uma moto, atiram, depois fogem no trânsito”, explica o delegado Madson Carvalho Sampaio, titular da 2ª Delegacia.

Foi exatamente assim que, 21 dias antes da morte de Bernardino, o desempregado Jackson Evandro Souza, 23 anos, foi assassinado com dois tirosquando estava em um bar no bairro Queimadinha, apontado como um dos mais violentos de Feira.

No dia 8 de julho, foi a vez do também motorista Ataíde da Silva Bezerra, 32. Ele estava parado em uma caminhonete Ford F-4000,quando os motocidas chegaram em uma moto preta e dispararam um tiro no ouvido esquerdo da vítima.

Há os que têm sorte e conseguem escapar, como o travesti Osvaldo Rafael Souza Fadigas, 21. Ele andava pela Avenida Presidente Dutra, na noite de 15 de julho, quando percebeu a chegada de uma moto. Correu, mas os bandidos ainda conseguiram acertá-lo com um tiro nas nádegas. Após ter sido medicado no Hospital Clériston Andrade, contou à polícia que não pôde reconhecer os autores, porque eles estavam de capacete e fugiram rapidamente.

DIFICULDADES
Sampaio explica que, justamente por conta do “equipamento de trabalho”, muitos motocidas acabam escapando da polícia. “O uso do capacete dificulta muito o reconhecimento dos criminosos. Sem contar que há placas adulteradas ou que são viradas durante as ações para que não haja identificação do veículo”, explica.

Outra peculiaridade que facilita a ação dos assassinos motorizados é a agilidade que as motos têm no caos do trânsito em alguns pontos da cidade, mesmo com as avenidas e ruas largas de Feira.

Apesar das dificuldades enfrentadas por quem combate a modalidade de homicídio que mais cresce na cidade, volta e meia um pistoleiro de duas rodas acaba preso pela polícia.

Número baixo de apreensões Enquanto cresceram os roubos e furtos de motos em Feira, a polícia tem extrema dificuldade em recuperar os veículos levados pela bandidagem. Em 2008, até junho, foram 57. No mesmo período deste ano, a Polícia Civil conseguiu apreender 58.

Atualmente, o índice de recuperação é de cerca de 25%. Segundo as estatísticas policiais, motocicletas da marca Honda, nas cores preta e prata, têm a preferência dos ladrões e motoassaltantes. Parte delas vai parar no mercado negro, em forma de peças retiradas em desmanches, e o restante acaba servindo para realização de delitos.

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