Autuado em flagrante no último domingo por racismo, porte ilegal de arma e desacato, o delegado de Gandu ( 290 Km de Salvador), Madson Santos Barros, é também acusado de formar uma milícia na cidade onde é titular.
O Ministério Público apurou que, nos últimos meses, Madson teria contratado homens armados, não-policiais, para acompanhá- lo no “combate” à criminalidade. Os chamados X-9 estariam agindo sem conhecimento da Justiça e sem quaisquer critérios policiais, tendo inclusive vitimado inocentes.
“Saem numa Ranger preta (picape Ford) barbarizando. Pegam muito bandido, mas sobra também pra gente que não tem nada a ver”, denunciou um morador do município que ligou para o CORREIO.
O promotor Pedro Maia Souza Marques designou a Coordenadoria de Polícia do Interior (Corpin) de Valença para investigar as denúncias. O mesmo promotor chegou a dar voz de prisão a um dos homens armados que acompanhavam o delegado.
Flagrado por porte ilegal de arma, o homem ficou preso alguns dias, mas foi solto pela Justiça. O promotor não quis prestar informações sobre a atuação da milícia e a prisão de um dos seus membros. Indicou que a própria Corpin o fizesse.
A delegada Argimária Freitas Soares, coordenadora do Corpin de Valença, disse que havia iniciado as investigações sobre a existência do grupo na última quinta-feira.
Menos de três dias depois, o delegado foi preso em Salvador. “Estávamos na fase preliminar quando recebi a notícia da prisão. Ainda é prematuro, mas há denúncias de que o delegado andava com X-9”.
Ainda nesta terça-feira (4) a delegada volta a Gandu para dar prosseguimento às investigações. Ela informou ainda que foi incumbida também de investigar uma suposta troca de tiros envolvendo o delegado, na qual uma pessoa teria sido atingida e morta. “Mas ainda não temos qualquer informação sobre isso”.
Transtornado
Madson Barros foi encontrado na madrugada de domingo desacordado dentro de um Fiat Palio na região do bairro do Imbuí. No veículo havia uma grande quantidade de armas, inclusive um fuzil e uma pistola de uso exclusivo do Exército, além de muita munição e coletes à prova de balas.
Populares acionaram a polícia e uma guarnição da 36ª CIPM se dirigiu para o local. Dadas as condições do delegado, uma ambulância do Samu o levou para um posto de saúde. Depois, a PM o encaminhou para a Corregedoria. Ali, Madson teria ficado transtornado e tentado agredir uma delegada grávida.
Um agente de polícia que interveio foi vítima de socos e pontapés, além de ter ouvido palavras de conteúdo racista. “Não vou aqui reproduzir as palavras usadas por ele. Mas que foram racistas, foram”, disse o corregedor plantonista Adagilson Sobral, que interrogou o delegado no domingo.
Em dezembro de 2008, quando ainda titular da cidade de Pojuca, Madson se meteu em outra confusão. Foi preso depois de disparar arma de fogo em público e agredir uma mulher. Levado para a 12ª Delegacia, em Itapuã, debochou da prisão e tirou a roupa quando foi informado de que seria encaminhado à Corregedoria.
Possibilidade de exclusão
Independente dos processos criminais, o delegado Madson Santos Barros responderá também processo administrativo disciplinar. Esse, informa o corregedor chefe da Polícia Civil, Jorge Monteiro, é instaurado imediatamente.
“Com o auto de prisão em flagrante, existe o pressuposto de que o crime existiu. Nesta terça-feira (4) mesmo, a instauração do inquérito deve sair no Diário Oficial do Executivo”.
Ao final do processo, Madson pode ser excluído da instituição. A pena para o crime de racismo é de três anos de prisão. Já o de porte ilegal de armas pode chegar a seis. “A conduta dele é imprópria para um delegado”, disse o corregedor.
Ao ser interrogado, o delegado falou muito pouco. Não esclareceu nada do que aconteceu na madrugada de sábado para domingo. Não se sabe o que o levou a parar com um carro no Imbuí, onde foi encontrado aparentemente bêbado, acompanhado de um arsenal.
Madson se negou a fazer o exame de alcoolemia. No seu depoimento, disse não se lembrar de quase nada, nem das agressões físicas e xingamentos direcionados ao agente. Disse acreditar que ficou inconsciente porque sua pressão arterial baixou. “Só respondeu o que quis, o que é um direito dele”, disse o corregedor chefe, Jorge Monteiro.
Delegado chefe elogia Corregedoria
O delegado-chefe da Polícia Civil, Joselito Bispo, elogiou a postura da Corregedoria no caso do delegado. Para Bispo, a polícia não pode agir com corporativismo nos casos em que um dos seus membros dá mau exemplo.
“Uma das funções da Corregedoria é não deixar que um de nós manche a imagem da instituição. A polícia agiu com o devido rigor”. Quando foi preso por agredir uma mulher e disparar arma de fogo em público, ainda delegado de Pojuca, no ano passado, Madson não perdeu a titularidade.
Apenas foi transferido para Gandu. A assessoria de comunicação da SSP não soube dizer quanto tempo o delegado temna polícia. Sabe-se apenas que, aos 43 anos, já acumula uma ficha com cinco processos administrativos e outros cinco criminais.
Parte da população de Gandu aprova delegado titular
Apesar dos últimos incidentes envolvendo o delegado Madson Barros, boa parte da população de Gandu aprova o trabalho do titular. Entre muitos moradores, Madson é conhecido como ávido perseguidor de assaltantes, homicidas e traficantes de drogas da região.
Depois que um homem apontado como um dos seus X-9 foi preso, Madson teria se tornado pouco frequente na cidade. Moradores informam que um abaixo-assinado chegou a ser feito para que ele retornasse. “Ele ‘derrubou’ muito vagabundo ruim aqui. Faz um excelente trabalho. A gente estava torcendo para que ele voltasse”, garantiu um antigo morador que preferiu não se identificar. Um agente da delegacia de Gandu, que também não quis revelar o nome, garantiu que mais de 90% da população aprova o trabalho do delegado.
Arsenal apreendido inclui fuzil e pistola de uso do Exército
O arsenal que o delegado Madson Barros levava no carro foi exibido no dia seguinte ao ocorrido, na Corregedoria da Polícia Civil, pelo corregedor plantonista, Adagilson Sobral.
Somente a pistola 9mm de uso exclusivo do Exército foi encaminhada para o Departamento de Polícia Técnica (DPT). As demais armas ficaram apreendidas na Corregedoria. A quantidade impressiona.
Madson Barros carregava também duas pistolas .40, um fuzil Taurus, 36 projéteis 40mm, seis projéteis para fuzil 44mm, 13 projéteis para fuzil 556mm, 25 projéteis .45, 16 estojos de fuzil 556, um cartucho calibre 12, três coletes à prova de balas, dois facões, três pares de algemas e um distintivo da Polícia Civil. Também estavam no carro um notebook, cinco aparelhos de celular, seis carregadores e um rádio.
Posta por Jorge Magalhães- fonte Correio da Bahia
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