terça-feira, 26 de outubro de 2010

Travesti gastou R$ 20 mil para ajudar estudante que matou três em cinema


De dentro do presídio, depois de metralhar três pessoas numa sala de cinema de um shopping de São Paulo, o baiano Mateus da Costa Meira continuou a atirar. Dessa vez, com palavras escritas. Acertou o coração de uma travesti e com ela se relacionou através de correspondências trocadas de dentro da prisão. Foram 49 cartas às quais o jornal Folha de S. Paulo teve acesso.
De acordo com a reportagem da Folha, Mateus se correspondeu com a travesti, que costumava tratar como “querida Alcione”, entre maio de 2001 e outubro de 2003.
Pelo conteúdo dos manuscritos, Mateus, que pegou 120 anos de pena, parecia querer manipular Alcione. Conquistando-a, poderia usá-la aqui fora. Foi o que fez.
Em boa parte das cartas, desenhava signos amorosos como corações flechados. Parecia querer ganhá-la pela infantilidade. “Sou seu amiguinho”, assinou em 15 de maio de 2001, ao lado do desenho do rosto de uma criança, de óculos, como se fosse sua própria representação. Acima, na mesma carta, rabiscou uma casa, uma árvore, o sol atrás de uma nuvem e um avião.
No texto, porém, Mateus oscilava entre elogios afetuosos, quando a tratou como uma “heroína”, e ordens incisivas. Por vezes, o atirador do shopping também demonstrava irritação. Alcione, na verdade Antonio Alcione Carvalho, sempre respondia com declarações apaixonadas. Mateus esnobava. “Já sei que você me ama, mas não precisa ficar repetindo”.
AFETO BANDIDO
 
São raros os momentos em que Mateus cita o massacre no shopping. Curioso, quer entender como a travesti conseguia amar um assassino. “Alcione, fale-me mais de sua vida. Por que você se apaixonou por mim depois que eu metralhei o pessoal no cinema?”.
Numa carta escrita em 2001, Mateus parece questionar os psiquiatras. “Se eu fizer uma bomba com explosivo plástico e implodir um shopping, eles vão continuar me achando normal”. 
Em outro momento, se mostra acima de um diagnóstico. “Falam que eu tenho tendências esquizoides e que o ato que cometi foi fruto de agressividade íntima”, escreveu o estudante para a travesti, que deixou de se corresponder com Mateus quando percebeu que ele seria um “caso perdido”.
RELAÇÃO
Ao CORREIO, Alcione disse que nunca visitou Mateus na cadeia. Mas dava um jeito de enviar ao presídio o que precisava. O atirador do shopping pedia de tudo, desde medicamentos, cigarros e materiais diversos a objetos ilegais, como celulares. Chegou a pedir que a travesti comprasse um celular e pagasse R$ 1 mil para que o aparelho entrasse no presídio.

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