quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Camisinha: o miserável do Nordeste de Amaralina


Quando o assunto é leve, ele manda matar. Mas, quando é mais grave, ele mesmo mata. É assim definido o perfil do traficante Luís Fernando Anunciação da Cruz, o Camisinha, homem  que hoje controla pelo menos 60% das bocas de fumo do Complexo do Nordeste, que inclui sete comunidades:  Nordeste de Amaralina, Vale das Pedrinhas, Santa Cruz, Chapada, Areal, Vila Verde e Boqueirão. 

Um dos líderes da facção criminosa Comando da Paz (CP), Camisinha herdou a administração das bocas do traficante Josevando Bandeira, o Val Bandeira, que cumpre pena por tráfico de drogas no presídio federal de Catanduvas, no Paraná. 

Dono de uma fama de matador cruel, Camisinha é o autor ou é citado em vários inquéritos em andamento na 28ª Delegacia (Nordeste). Pelas ruas da comunidade, as pessoas, com medo, preferem dizer que não o conhecem ou que nunca ouviram falar no traficante. Mas, com um pouco mais de conversa, nos bares da região, as histórias começam a aparecer. 

CALIBRE 12

“Ele matou um homem com um tiro de espingarda calibre 12 no rosto. Até hoje, não se sabe se foi por dívida de drogas ou se foi por algum outro desentendimento. Mas, todos aqui morrem de medo. É melhor não se envolver com ele não”, avisa um morador da comunidade, que, por medo de represálias, prefere não se identificar. Investigadores da 28ª Delegacia contam que esse é apenas um dos casos em que Camisinha é apontado como o autor de um homicídio, com requintes de crueldade. 

“Ele precisa manter a fama de cruel, de mau, para continuar dominando a comunidade. Esse não é o único caso em que ele usou sua escopeta. Pela nossa investigação, ele usa, além da arma pesada, mais duas pistolas e anda de moto na comunidade”, conta o investigador. “Ele usa uma moto também e está sempre cercado de seus comparsas”, completa o policial.

CHACINA 
 
Camisinha ganhou notoriedade nos últimos dias após ser apontado, por um adolescente de 17 anos, de ser o mentor da chacina de Itinga, em 7 de outubro. O adolescente foi apreendido na manhã de segunda-feira. 

A história teve início com uma rixa entre Plácido Santos Teles — o alvo maior do plano de Camisinha — e um outro rapaz conhecido como Léo Cabeça, assassinado por Teles um mês antes, em setembro. 

Os dois criminosos seriam parte do grupo de Camisinha. A desavença ficou ainda mais grave quando Léo Cabeça atirou contra Teles, que sobreviveu ao atentado. 

Pouco tempo depois, a vingança. Léo Cabeça foi assassinado na praia de Amaralina. Após o crime, Teles foi obrigado a se refugiar  e alugou uma casa em Itinga. Além de Teles, mais três pessoas morreram na chacina. Apenas uma mulher conseguiu sobreviver. 

De acordo com o delegado Jacinto Alberto da Silva, titular da 27ª Delegacia, em Itinga, que investiga o caso, Camisinha é um criminoso vingativo e com sede de crime. 

“Pelo relato do adolescente, pelos detalhes do planejamento dessa chacina, não tenho dúvidas de que se trata de uma pessoa de altíssima periculosidade e que deveria estar atrás das grades. Mas, em breve, a polícia vai prendê-lo e devolver a paz às pessoas da região do Nordeste”, diz . O menor continua apreendido. 

CAMISINHA 

Outra curiosidade sobre o criminoso é a origem de seu apelido. Há diversas lendas na comunidade, mas duas ganham mais força na voz de quem o conhece há mais tempo.
Moradora da comunidade há mais de 20 anos, uma mulher conta que a origem do apelido se deve ao fato de ele ter muito medo de morrer, vítima de alguma doença sexualmente transmissível. “Ele é namorador e tem medo de acabar se envolvendo com alguém contaminado com essas coisas”, diz a moradora.

A outra versão mais contada pelos moradores é a de que Camisinha ganhou esse nome por se sentir protegido com seu time de “braços direitos”. Segundo a polícia, há pelo menos oito homens que estão na linha de frente da quadrilha comandada pelo traficante. 

O exército de Camisinha foi identificado pela 28ª Delegacia como Anderson Sacramento Santos, o Amaral, Bruxa, Toinho do Bariri, Francisco Lima de Souza, o Cabeção, Leandrinho, Elmiro Max Silva Reis, o  Tó, e Carlos de Jesus Dácio, o Dácio. 

Policiais militares que já entraram em confronto com o criminoso também relatam histórias de terror vividas durante ações na comunidade. “As duas vezes em que conseguimos chegar perto desse traficante, ele estava cercado de soldados e armado até os dentes. Ele nos surpreendeu e saímos de lá”, relata o PM.

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