Avesso aos estudos, o menino J.M.B.S., aos 12 anos era analfabeto nas regras gramaticais. Mas, praticava com habilidade as tarefas repassadas pelo tráfico no bairro Pitanguinha, em Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador. O bairro onde o menino morava e foi executado por traficantes em janeiro deste ano é um dos nove locais que receberam ontem câmeras de vídeo para monitorar ações criminosas na cidade.
O monitoramento acontece uma semana após o Ministério da Justiça divulgar pesquisa que aponta a cidade como a vice-campeã na taxa de homicídios do Brasil. Além de Simões Filho, entre as 25 cidades brasileiras com maior taxa de homicídios há outras cinco cidades baianas: Itabuna (17ª), Lauro de Freitas (16ª), Porto Seguro (17ª), Dias D'Ávila (22ª) e Eunápolis (23ª).
O secretário de Serviços Públicos de Simões Filho, Denison Santana, explica que a central de monitoramento, instalada na sede da Guarda Municipal da cidade, terá vigilância das polícias Civil, Militar e Guarda Municipal. “A ideia é prevenir todo tipo de crime: homicídios, roubos e furtos. Além do monitoramento por vídeo, houve renovação da frota da guarda municipal e da Polícia Militar para dar reforço”.
Nesta primeira fase, diz o secretário, as câmeras foram instaladas no Centro, CIA 1, Pitanguinha, avenida Paulo Souto, loteamento Candeias, Praça Ernesto Simões e Ponto Parada.
MEDO
No bairro Pitanguinha, moradores veem com apreensão a instalação de câmeras. “Não sei se os bandidos vão gostar. As coisas podem ficar pior para o nosso lado. Tenho que fechar o comércio cedo e deixar os bandidos pegarem o que quiserem aqui dentro sem falar nada”, conta uma comerciante que trabalha no bairro há 10 anos.
Outra moradora, que vive no local e também pediu para não ser identificada, tentou lembrar quantos homicídios já presenciou no bairro. “Vai faltar dedo na mão e no pé se eu for contar. Aqui tem enterro sempre. Simões Filho é a alegria das funerárias”.
Outra vítima da violência em Simões Filho foi a adolescente Luana Miranda de Jesus, de 16 anos, morta com um tiro na cabeça e outro no tórax, no último dia 24, no Ponto de Parada, outro bairro que recebeu as câmeras de segurança.
O delegado titular da 22ª DP, em Simões Filho, Orlando Dourado, se disse surpreso com os dados da pesquisa. Ele aponta que, este ano, houve redução na quantidade de homicídios. “Em janeiro e fevereiro, por exemplo, foram pouco mais de 10 homicídios na cidade”, diz ele, que defende o videomonitoramento.
“Evidente que só vamos saber se vai funcionar quando entrar na prática, mas tudo que vem para agregar é bom. Já estamos fazendo um combate efetivo ao tráfico de drogas, que é responsável por muitos crimes”. O delegado diz que foram detidos importantes traficantes em bairros como CIA 1, Campo do Vasco, Coroa da Lagoa e Baixa da Jaqueira, o que diminuiu a quantidade de homicídios.
Para o padrasto do menino J.M.B.S., que preferiu não se identificar, o videomonitoramento e a alegada redução do número de homicídios não são significativas. “Meu enteado não vai voltar a viver. Foi vítima do crime e não podemos reclamar porque senão vamos acabar igual a ele”, lamenta.
LIMITES
Outras cidades da Região Metropolitana têm índices menores na pesquisa, a exemplo de Camaçari, que está na 77ª colocação. Segundo as autoridades policiais de Simões Filho isso acontece porque muitos crimes - principalmente corpos em área de desova - estão na região de fronteira das duas cidades.
“Antigamente (na época que a pesquisa foi feita), o limite entre as duas cidades não era bem definido e muitos corpos de Camaçari eram registrados aqui. Hoje, os limites estão bem definidos”, argumenta o delegado, destacando que esse pode ser o motivo para a cidade ter um número tão elevado de homicídios registrado no período da pesquisa.
Pesquisa afasta empresas
A divulgação da pesquisa que deu o título de vice-campeã brasileira dos homicídios a Simões Filho causou impacto financeiro na cidade. Segundo o prefeito do município, Eduardo Alencar, duas indústrias sinalizaram negativamente a sua instalação na cidade por conta da pesquisa.
“Recebi ligação de dois importantes empresários dizendo terem desistido de colocar fábricas na nossa cidade por conta da pesquisa”, explica o prefeito, ressaltando que o levantamento do Instituto Sangari trabalha com dados de 2006 a 2008.
Mas a situação pode ser diferente e a cidade pode dar a volta por cima com tecnologia. A instalação da central de monitoramento em vídeo de Simões Filho é apontada pelo major Jorge Ricardo Albuquerque, da 22ª Companhia Independente da Polícia Militar, em Simões Filho, como um dos principais trunfos para o combate ao tráfico e aos homicídios.
O militar argumenta que desde 2008 — ano que a pesquisa foi encerrada na cidade — houve um aumento de efetivo e estrutura da polícia, o que colaborou com a diminuição dos índices de homicídios. “Em 2008, tínhamos dois carros e duas motos. Hoje, são seis carros e quatro motos e um aumento de 30% no efetivo de policiais. Hoje, são 131 PMs trabalhando em Simões Filho. A instalação da sede da Rondesp (Rondas Especiais) em nossa cidade também colaborou”, diz o major, acrescentando que há articulações para que uma Companhia Independente seja instalada no Polo Petroquímico.
Dúvida
Já para o coordenador do Observatório de Segurança Pública da Bahia, professor Carlos Costa Gomes, o monitoramento por vídeo não é muito eficaz contra os homicídios, mas pode ser contra outros crimes. “É muito aplicado em crimes contra o patrimônio, já que inibe a ação dos criminosos, que são identificados e passam a ser investigados.
Alguns crimes de homicídios acabam sendo filmados, mas nem sempre isso dá certo, até porque os crimes de homicídios não são previsíveis. O crime está próximo de uma população identificada como jovem, de baixo extrato econômico, moradora de áreas periféricas, além de ter uma proximidade muito grande com a droga”, diz. “Deveriam pensar
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