sábado, 11 de outubro de 2008

Violência gera custo anual de quase R$100 bilhões ao Brasil



Mais de 100 mil pessoas morrem por ano no Brasil vítimas da violência. Dessas, 50 mil são assassinadas. O quadro alarmante, além de provocar sofrimento e preocupação na sociedade, gera alto prejuízo financeiro aos setores público e privado do país. Estudo divulgado esta semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) demonstra que, só em 2004, o custo da violência no Brasil foi de R$ 92,2 bilhões, ou seja, 5,09% do Produto Interno Bruto (PIB) registrado no período.


Considerando a população do país na época, o prejuízo foi de R$ 519,40 por pessoa. Para se ter idéia do volume de dinheiro, a quantia total perdida com a violência em 2004 pagaria o orçamento previsto para este ano dos Ministérios da Defesa, da Saúde e do Meio Ambiente juntos. A análise dos custos e conseqüências da violência no Brasil foi feita por um grupo de pesquisadores do Ipea e um professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence/IBGE).


De acordo com os autores do estudo, esta é a primeira vez que se tenta quantificar de forma mais ampla os prejuízos da criminalidade no Brasil. Segundo eles, o objetivo do mapeamento é orientar da melhor forma possível a aplicação de recursos públicos em programas que visam reduzir práticas violentas no país.Desde o começo dos anos oitenta as mortes provocadas pela violência e pela criminalidade vêm aumentando de forma acelerada no Brasil.


Enquanto as mortes por causas externas evoluíram a uma taxa anual de 2,4%, entre 1980 e 2004, o número de homicídios cresceu a 5,6% ao ano, fazendo com que representassem 37,9% do total de mortes por causas não naturais em 2004.Do total perdido com a prática de crimes em 2004, R$ 31,9 bilhões corresponderam a despesas efetuadas pelo setor público. Isso significa que cada cidadão pagou pelo menos R$ 15,00 ao mês, pelos prejuízos gerados com a violência.


A maior parte desses gastos, R$ 30,9 bilhões, serviu para arcar com as despesas do Estado com o sistema público de segurança, incluindo a manutenção das polícias e dos sistemas prisionais. No cálculo, os pesquisadores consideraram ainda os dispêndios do sistema público de saúde com o tratamento das vítimas da violência, que consumiram R$ 988 milhões dos cofres.


Os outros R$ 60,3 bilhões são resultantes dos custos arcados pelo setor privado. Nesse sentido, R$ 14,3 bilhões foram gastos por famílias, empresas e pelo próprio governo com a contratação de empresas privadas que prestam serviços de segurança e vigilância.


O clima de insegurança também favorece a procura por seguradoras. Só o pagamento de seguros gerou um custo de R$ 12,7 bilhões, sem contar os outros R$ 9,4 bilhões perdidos em objetos que foram roubados ou furtados. No setor privado, no entanto, a maior parte dos custos decorreu da perda de capital humano. Calcula-se que os indivíduos que morreram prematuramente, vítimas da violência em 2004, poderiam ter gerado R$ 23,9 bilhões em rendimentos, caso estivessem vivos. O mais assustador é que, de acordo com os pesquisadores, o custo calculado no estudo está bem abaixo dos reais prejuízos resultantes da violência no Brasil.


Isso porque muitos outros fatores que também influenciariam na conta acabaram não sendo calculados pelas dificuldades de mensuração. Alguns exemplos são os custos com o sistema de justiça, as perdas com a “fuga” de turistas e a redução do bem-estar das pessoas, que, ao se sentirem inseguras, alteram os hábitos de consumo.


Com o aumento dos riscos nas ruas, muitos passam a sair menos de casa e começam a comprar produtos mais baratos para não atrair a atenção de criminosos. Isso sem contar os custos intangíveis motivados por dor, sofrimento e medo, além da perda de produtividade motivada por traumas e morbidade.


Do lado da oferta, o custo da proteção leva as empresas a aumentarem os preços dos seus bens e serviços, o que gera uma diminuição dos negócios.De acordo com os pesquisadores do Ipea, estudos desse tipo, apesar da importância, são raros, dadas as dificuldades de se obter uma base de informações ampla e minimamente confiável quanto aos incidentes que envolvam violência ou criminalidade. Isso sem contar a “fraca cultura de avaliação quantitativa das políticas públicas (no Brasil), que terminam sendo conduzidas ao sabor do voluntarismo político e das manchetes de última hora”.


Os estudiosos salientam na pesquisa que as estimativas apresentadas devem ser vistas como “um esforço de trazer a debate público a necessidade de se mudar o enfoque das discussões em torno da violência no Brasil”. Segundo eles, é imprescindível hoje no país, que tais discussões saiam do plano retórico e emocional e adquiram um caráter racional que reflita sobre uma forma de organizar a gestão da segurança pública, conferindo-lhe eficácia e eficiência.



POSTA POR ELICLEIA OLIVEIRA

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