sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Especialistas analisam cobertura jornalística contra a pedofilia


Isabella Nardoni, morta violentamente aos 5 anos, a coordenadora do Programa de Enfrentamento à Violência Sexual contra a Criança e o Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Leila Paiva, avaliou que a mídia cumpre seu papel de informar, embora considere que o faça de forma direcionada.


Para ela, o motivo é a falta de critérios dos setores responsáveis pelas investigações na hora de falar do caso. “A imprensa é um grande aliado, na maioria das vezes, e cumpre seu papel de disponibilizar as informações para a população, mas os outros setores de atendimento e responsáveis pelo procedimento de investigação e responsabilização é que têm que triar quais são os momentos adequados para disponibilizar determinadas informações”, afirmou.


Indagada sobre o porquê de casos como o de Isabella receberem mais destaque do que, por exemplo, o do assassinato de
Laila Fonseca, aos 9 anos, em Santo Antônio do Descoberto (GO), Leila Paiva disse acreditar que o motivo está no fato de que fatos que ocorrem no eixo Rio-São Paulo sempre receberem cobertura maior. No caso da menina Laila, suspeita-se de que houve abuso sexual antes do assassinato.

“Eu acredito que o que ocorre nesse eixo acaba tendo dimensão nacional. Falar de São Paulo é falar de 30% da população do país. Mas é importante fazer um alerta à população que quem vai cuidar da defesa e da responsabilização são os órgãos competentes. Nós precisamos aproveitar esse momento para mostrar que ocorre esse tipo de violência e a importância de denunciar, porque podemos até mesmo salvar crianças, caso a gente não se omita”, alertou.


Para a secretária-executiva da Comissão Teotônio Vilela do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (Nevusp) Alexandra Santos, a imprensa precisa descobrir o seu papel e cumpri-lo, sem tomar o lugar que cabe às autoridades de investigação e responsabilização.
“É um drama familiar, é chocante, revoltante e que precisa ser monitorado, mas quem tem que fazer esse monitoramento são as autoridades.


Há um excesso na cobertura. Sai um laudo pericial, as pessoas são chamadas a depor e é veiculado que elas foram indiciadas”, criticou Alexandra.


A secretária-executiva do Nevusp comparou a cobertura do episódio Isabela com a do caso Escola Base, em que professores foram acusados de abusar sexualmente de estudantes com menos de sete anos. Na ocasião, o caso repercutiu tem todo o país e, por fim, ficou constatada a inocência deles. Na análise da especialista, a mídia deve ter cautela porque as peculiaridades do caso Isabella podem levar a excessos.


“Tem alguns fatores que se tornam atrativos, como o fato do pai ser o principal suspeito. Mas parece que a desgraça de uns é mais importante que a de outros. Se pegarmos o caso da menina de Abaetetuba ou o da Laila, a repercussão foi muito inferior ao caso Isabella. Cada um tem um papel. A imprensa tem mais um a cumprir, mas não pode tomar o lugar da polícia, do Ministério Público ou do Judiciário”, afirmou Alexandra.


Violência doméstica lidera ranking de agressões contra crianças e adolescentes
Os pais são os principais agressores contra crianças e adolescentes. A constatação pode ser vista na página da internet que mantém atualizadas as denúncias dos Conselhos Tutelares de todo o país, enviadas ao
Sistema de Informação para a Infância e Adolescência (Sipia). São 186.415 registros, de 1999 até hoje.

Também constata-se que os números de agressões contra crianças e adolescentes são altos pelo Disque 100, sistema que permite que qualquer um faça denúncias, inclusive anônimas. Em números absolutos, os casos de agressão por negligência ou agressão física e psicológica são 54.889 dos 111.807 registros. Isso representa 67,40% do total. Entre os registros, 242 são denúncias de violência com morte da criança ou do adolescente.


Diante do índice, especialistas em questões da infância, consideram que episódios como o da menina Isabella Nardoni, que morreu aos 5 anos, causando comoção por ter causas ainda desconhecidas, são mostras de um país ainda tolerante com a agressão contra crianças e adolescentes.


Para o integrante do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), Ariel de Castro Alves, os dados revelam que a violência contra a infância é generalizada no Brasil e que há muita tolerância para com ela – o que faz com que as pessoas se sintam menos à vontade para denunciar.


“Devemos tratar do caso da menina Isabella e, a partir dele, refletir com toda a sociedade brasileira. Os números mostram que a violência contra a infância e a juventude é generalizada e, muitas vezes, a violência ocorre exatamente nos locais em que elas deveriam receber proteção, que são os lares, escolas e creches”, disse.


A coordenadora do Programa de Enfrentamento à Violência Sexual contra a Criança e o Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos, Leila Paiva, concorda com o conselheiro do Conanda. Para ela, o que contribui para a manutenção deste quadro é a falta de iniciativa de quem observa a violência, mas não denuncia.


“Existe um pensamento no imaginário popular de que não devemos interceder em problemas que ocorrem no âmbito familiar, o que é um equívoco. Mas, ao mesmo tempo, eu penso que o aumento dos registros no Disque 100 é pelo fato dele garantir o anonimato e a distância das pessoas”, analisou a coordenadora.


Ariel Alves, do Conanda, retoma a questão do papel da sociedade: “Não é só a família a responsável por garantir os direitos da infância e juventude, o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) diz que é um dever de todos: da família, do Estado e de toda a sociedade brasileira.”



A média de utilização do Disque 100, desde que foi implantado em 2003 até hoje, é crescente. Começou com 12 relatos por dia, passou para 38 em 2006 e chegou a 69 em 2007. Até março deste ano, foram contabilizados em torno de 93 casos diariamente.


Os dois especialistas atribuem o crescimento do número de denúncias à sensibilização de todos da importância em não se calar diante dos casos de agressão a crianças e a adolescentes. Para ambos, não se trata de aumento dos casos de agressão.


Alves citou estudo da Universidade de São Paulo sobre o tema: “Uma pesquisa do Laboratório de Estudos da Criança da USP, feito entre 1996 e 2007, diagnosticou a existência de 159.754 casos de violência doméstica. E também concluiu que aproximadamente 10% dos casos de abusos e violência contra crianças e adolescentes são denunciados.”


POSTA POR ELICLEIA OLIVEIRA/FONTE:BRASILCONTRAA PEDOFILIA-PORTAL.

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