Era perto da meia-noite, quando o quarteirão normalmente calmo do Paraíso (zona sul de São Paulo) irrompeu em palmas e gritos. "Mataaaa." "Linchaaaa." "Vagabundoooos" "Filhos da...taaaaa." As palmas eram para a polícia, que naquele momento prendia sete homens de uma quadrilha especializada em assalto a prédios, pondo fim a uma hora de terror, com disparo de tiros e pânico de reféns, adrenalina no bairro.
Os assaltantes já haviam invadido um prédio na mesma quadra. Entraram na garagem em um Ford Eco Sport, na cola de um morador que chegava em casa de carro.
PM detém dois homens suspeitos de roubo em prédio do centro de SPSete são presos ao tentar roubar prédio e manter moradores reféns
O bando iniciou o arrastão no prédio, mas foi surpreendido pela polícia, acionada por um morador que percebeu a movimentação anormal.
Em fuga, os oito ou nove homens (não se sabe o número exato) escalaram o muro dos fundos do prédio em que estavam e, assim, alcançaram os fundos de um outro edifício, o Panorama. Pularam de uma altura de 8 metros e correram para o apartamento do zelador, no andar térreo, onde renderam cinco pessoas, um adolescente de 15 anos entre eles.
A polícia apareceu em minutos e cercou a rua. "Nesse prédio branco aí!", "Mais para cima", "Nos fundos!" Os moradores nos prédios em volta passaram a orientar a polícia sobre onde estariam os fugitivos.
A seguir, houve vários disparos de arma de fogo (nenhuma rajada) e ouviu-se a voz forte do policial da Força Tática, dentro da área comum do prédio: "Se matar um (refém), morrem todos vocês."
Um helicóptero da PM, voando bem baixo, jogava jatos de luz sobre o cenário da ação. O restante da negociação não foi possível ouvir.
Do prédio bem defronte ao Panorama, dava para ver os reféns, incluindo o garoto, filho do zelador, com as mãos para cima, cercados pelos assaltantes.
Flashes estouravam de cada canto. Eram de máquinas de moradores encarapitados nas sacadas.
A rua congestionada tinha a essa altura algo como 35 carros de polícia GOE (Grupo de Operações Especiais da Polícia Civil), Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aquiar), Força Tática, entre outros.
O homem que parecia ser o líder do grupo, vestido de branco, aceitou a rendição. Todos os assaltantes colocados em um paredão lateral do prédio, e já um grito se ouviu: "Fuzilaaaaaa."
Os gritos de alívio, xingamentos e aplausos, entretanto, só foram escutados quando os sete homens em fila indiana, cabeças baixas, saíram do prédio escoltados, e entraram nos chiqueirinhos de três carros da PM.
Foi essa a senha para muitos moradores descerem de seus apartamentos, munidos de câmeras de vídeo e celulares.
"Eu estava assistindo o Big Brother quando tudo começou. Mas na rua estava muito melhor, isso sim é ação real, em 3D", comentava o rapaz, latinha de cerveja na mão, ao lado do carro da polícia em que um dos presos suava forte, embaçando os vidros: "Agora, para ele, vai virar 'Prison Break'", disse, referindo-se ao seriado americano de TV.
Um casal em traje de gala (ela de longo vaporoso azul), que voltava de uma festa e teve de deixar seu carro no quarteirão de cima, tentava passar por entre curiosos de bermudão e policiais que se cumprimentavam pela prisão.Na alegria do bangue-bangue de final feliz, a única nota destoante foi a fuga de um ou dois assaltantes. "Tomara que sejam encontrados bem longe daqui, para a polícia fazer o trabalho completo", dizia uma vizinha, meia-dúzia de bem-casados nas mãos, que voltava de um casamento.
Posta por Jorge Magalhães
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