segunda-feira, 12 de julho de 2010

Família do juiz morto policial contesta a versão do policial

Em matéria divulgada nesta segunda-feira (12/07), pelo portal de noticias www.correio24horas.com.br, “as duas versões para a morte do juiz Carlos Alessandro Pitágoras Ribeiro, de 38 anos, lançam argumentos contraditórios, e explicam pouco os fatos que levaram o policial Daniel Soares a disparar dois tiros contra o magistrado”. Para os parentes da vítima, a história apresentada pela Polícia Militar é cheia de fantasias, mentiras e corporativismo. O magistrado foi assassinado na noite de sábado, perto do Centro Empresarial Iguatemi.

Segundo a família, o juiz abordou o policial militar depois de ter presenciado o Kia Sephia do soldado Daniel Soares fazendo manobras perigosas na região em frente ao Centro Empresarial Iguatemi. A nota oficial, divulgada ontem pela Polícia Militar, afirma que Daniel estava fardado, indo de carro ao trabalho, na 35ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM), localizada atrás do shopping Iguatemi. No retorno em frente ao Centro Empresarial Iguatemi, ele teria ouvido alguém gritando e parou.

ATITUDE
A polícia também apura a hipótese de o juiz ter fechado o carro do policial. O magistrado, nesse momento, segundo a nota da PM, teria saltado do carro e vindo em direção ao policial com uma pistola em punho. O soldado teria, então, pedido que ele parasse. Mas, como não foi obedecido, disparou duas vezes, atingindo o juiz na clavícula esquerda e no abdômen.

O soldado Daniel Soares negou que tivesse ocorrido uma briga de trânsito entre ele e o juiz Alessandro Ribeiro, segundo um colega de corporação que conversou com ele após o crime, ainda na noite do sábado. Daniel também teria dito não conhecer o juiz. Segundo o policial, que esteve com o soldado após o crime, o juiz deixou a porta do carro aberta com o som em alto volume. Nenhuma explicação sobre a motivação da atitude do juiz foi apresentada.

ÁLCOOL
A família do juiz nega que ele estivesse alcoolizado e acusa o policial de ter disparado o segundo tiro quando o magistrado já estava caído. “O Pitágoras viu que ele dirigia perigosamente, fechando outros carros. Teve a oportunidade e o abordou. Nessa conversa, o policial deu voz de prisão para Carlos, que, sem dizer que era juiz de direito, explicou ao PM que ele não tinha poder para isso”, conta uma prima da vítima, Denise Pitágoras.

“O policial respondeu a meu primo dizendo que não tinha poder para prendê-lo, mas que poderia matá-lo. Isso é surreal. Estamos chocados. A família está muito abalada”, completa. A versão, de acordo com a família, foi confirmada por funcionários do Tribunal de Justiça que seguiram para o local. O policial, de acordo com os parentes de Pitágoras, não estava fardado e teria mudado a versão após descobrir, no bolso da vítima, a carteira de juiz.
“A família está revoltada, estamos em estado de choque. Queremos uma apuração justa. Onde estão as testemunhas civis? Na hora em que aconteceu, pouco antes das 19h de sábado, era certo que teriam pessoas circulando. Mas, até agora, ninguém apareceu”, afirma, indignada, a prima da vítima.

Duas testemunhas foram ouvidas pela Polícia Civil

Pelo menos duas testemunhas da morte do juiz Alessandro Pitágoras foram ouvidas no Departamento de Polícia Metropolitana (Depom), na sede da Polícia Civil, na Piedade, entre a noite de sábado e a madrugada de ontem. Segundo um colega do policial, que o acompanhou no Depom, as testemunhas seriam pessoas que estavam no local na hora em que o soldado Daniel Soares disparou contra o juiz. As pessoas foram ouvidas pelo delegado Omar Andrade, titular da 4ª Delegacia, em Cajazeiras. De acordo com o documento de registro de ocorrência, o delegado Omar foi designado para o caso pelo delegado-geral da Polícia Civil, Joselito Bispo. A titular da delegacia de Homicídios, Francineide Moura, que na noite do crime coordenava o plantão metropolitano, também foi ao local do crime.

Policial é experiente e responsável, diz colega oficial

O soldado da Polícia Militar Daniel Soares, que matou com dois tiros o juiz Alessandro Pitágoras, é tido como policial experiente e responsável. “Tanto que ele era designado para sair em diligência com os oficiais, como motorista”, relata um oficial da 35ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM), onde Soares trabalha.

Juiz estava no shopping Iguatemi antes do incidente

Antes de chegar ao Iguatemi, o juiz Alessandro Pitágoras almoçou na casa de um amigo, funcionário do Tribunal de Justiça, no Barbalho. O amigo, identificado como Oswaldo, é lotado na Assessoria Especial da Presidência do órgão. O corpo de Pitágoras foi enterrado no fim da tarde de ontem. Um dos amigos do juiz conta que, no momento do incidente, recebeu uma ligação dos policiais, alertando sobre a morte da vítima. “Ele estava morto no chão e um PM ligou. Fui o último a conversar com ele”, conta o amigo. A companheira do juiz, com quem ele tem uma filha, alegou estar sob forte emoção e não comentou o crime. A corregedoria da PM vai investigar o caso administrativamente. Caberá à Polícia Civil investigar o homicídio. A Associação dos Magistrados vai acompanhar o caso.

Pistola encontrada com juiz deixou de ser usada por polícia

A pistola 9mm usa projéteis menores que os das pistolas comumente usadas pela polícia civil e militar, como a pistola .40 (lê-se ponto 40) ou 380. No entanto, ela possui maior poder perfurante e deixou de ser usada pelas forças policiais, pois costumava atingir inocentes em tiroteios, após atravessar o corpo do alvo da polícia.

Arma de juiz é exclusiva das Forças Armadas e PF
A arma encontrada com o juiz Alessandro Pitágoras quando foi morto pelo policial Daniel Soares é de uso exclusivo das Forças Armadas e da Polícia Federal (PF), segundo especialista em armamento ouvido pelo CORREIO. A nota da Polícia Militar, divulgada ontem à imprensa, revela que o juiz estava com uma pistola 9mm, modelo Jericho 941 FB, fabricada pela Israel Military Industries (IMI). A pistola possui número de série 158211, mas o registro da arma não foi encontrado no carro.

Esse tipo de arma precisa de Certificado de Registro (CR), emitido pelo Exército, para ser transportada por civis No entanto, o porte da pistola 9mm só é permitido para colecionadores ou atiradores esportivos, e mesmo assim apenas para o transporte da arma a competições ou para o acervo do colecionador. Portanto, o porte dessa pistola para proteção pessoal estaria proibido, exceto para militares e membros da PF.

O CORREIO não conseguiu ouvir, ontem, o delegado Omar Andrade, da 4ª Delegacia, responsável pelo caso. A família do juiz Alessandro Pitágoras negou que ele possuísse uma pistola 9mm. A prima do juiz, Denise Pitágoras, afirma que ele tinha o porte de arma e que possuía uma de outro modelo. Mas ela diz que o juiz não costumava andar armado.

Informações e fotos do CORREIO DA BAHIA.

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