sexta-feira, 13 de novembro de 2009

“Presos pagam até R$ 2 mil a Ravengar por proteção na cadeia”

Em matéria divulgada pelo Jornal CORREIO DA BAHIA, na manhã desta sexta-feira (13), a vida de um preso na Penitenciária Lemos Brito (PLB) tem preço; e no Pavilhão 1 quem diz quanto ela custa é Raimundo Alves de Souza, o Ravengar. Acusado de cobrar dinheiro e favores em troca de proteção e garantia de vida, o traficante é alvo de uma nova sindicância - menos de um mês após ser punido com 30 dias de isolamento em uma cela, por ter criado e distribuído um código de comportamento dentro da prisão.

O JORNAL CORREIO teve acesso a três depoimentos de presos que denunciaram as extorsões, e tiveram coragem de relatar ainda crimes como roubo, agressão e tráfico de drogas. Os fatos são apurados pela Superintendência de Execuções Penais e os nomes dos internos serão preservados por motivo de segurança.

Informantes
Os preços cobrados por Ravengar variam de R$200 a R$2 mil. Segundo um agente carcerário, que pediu anonimato, o traficante mantém informantes fora da prisão, para subsidiar a cobrança. Eles são responsáveis por “avaliar” as famílias e comprovar se os presos falam a verdade, quando por exemplo, assumem não ter condição de pagar pela “segurança”. “Se o cara for pobre, vira soldado dele”, afirmou.

Os soldados, na engrenagem do sistema de extorsão, são responsáveis por cobrar pagamento, ameaçar quem não paga e invadir celas em busca de alguma forma de recompensa. As cobranças, denuncia o agente, acontecem também nos outros pavilhões. “ Na cadeia ninguém manda, nem vive sozinho”.

ProtegidoO nome do atirador do shopping, Mateus da Costa Meira, 34 anos, é apontado por carcereiros e policiais militares que trabalham na escolta de presos como um dos que estão sob a influência de Ravengar.

Após a agressão a um colega de cela em maio, Mateus só não foi agredido porque estaria sob proteção do traficante. “Ninguém mexe nele”, disse Ravengar, segundo um agente carcerário. “Se Ravengar não fala, ele teriamorrido no mesmo dia. Mateus custa caro. A família paga R$2 mil”, contou um policial militar que trabalha na escolta de presos. O advogado de Mateus, Vivaldo Amaral, afirmou desconhecer a cobrança.

Expulsões
Depois do episódio, Mateus foi transferido para o Centro de Observação Penal (Cope) e, segundo fontes da Vara de Execuções Penais, graças à influência de Ravengar. O superintendente de Assuntos Penais, Isidoro Orge, nega. “Isso não é verdade. O objetivo da transferência foi resguardar a integridade física deMateus. Não há influência de preso em ação de transferência. Quem determina isso é o Estado”, disse.

Mas, segundo as denúncias, não é isso o que ocorre. Quem não pode pagar ou não consente com acobrança é expulso do pavilhão. Foi o que aconteceu com um dos presos extorquidos, que concordou em denunciar formalmente à Vara de Execuções Penais. “Paguei R$100 para ele me deixar sozinho na cela. Resolvi pagar porque Raimundo sempre colocava uma pessoa viciada em pedra na cela e isso me incomodava”, contou.

O pagamento, no entanto, não livrou o preso cristão de agressões e humilhações. “Ele mandou eu sair correndo no pavilhão para não morrer. Já fui extorquido também com alimentos”, afirmou o interno, no, que declarou ter aindasido ameaçado com uma pistola dentro da unidade.

Sexo & Drogas
Coronhadas na cabeça e rosto, marcas de facão nas costas. O motivo: a recusa do preso em consentir que a mãe dormisse na cela de Ravengar e que a esposa levasse drogas. “Foi a primeira vez que isso aconteceu”, contou em depoimento.

Nos relatos, as agressões são atribuídas a “soldados de Ravengar” - cooptados pelo esquemade extorsão que funciona na unidade. Mesmo em juízo, os depoentes temem represálias.

Em depoimento, um outro preso relata ter “problemas” com o pessoal que representa a massa carcerária, sem especificar quais seriam essas arestas. As agressões são estendidas ainda às famílias. “Não visito mais meu irmão. Tenho medo”, confirmou a irmã de um dos presos.

Apuração
O superintendente de Assuntos Penais da Secretaria de Cidadania, Justiça e Direitos Humanos, Isidoro Orge, confirmou a sindicância, mas minimizou as denúncias. “Podem ser boatos, uma forma de vingança contra determinado preso”. Disse ter conhecimento dos depoimentos e observou a existência de um prazo de 30 dias para apurar os fatos.

“Abrimos sindicâncias a partir de denúncias de internos sobre extorsões. As investigações é que vão dizer o que de fato está acontecendo. Porque, você sabe, extorsão é relativo. De qualquer forma, estamos apurando isso. A direção da unidade abriu sindicância, nós apuramos, ouvimos os internos, inclusive os acusados, e enviaremos tudo para a juíza de execuções penais. Temos um prazo de 30 dias para isso”, encerrou.

Ele ainda afirmou que as denúncias contra Raimundo Alves são pontuais. Orge disse ainda que esse tipo de veiculação (a divulgação das denúncias pelo CORREIO) o preocupa. “O preso é colocado como figura emblemática. Não vamos permitir empoderamento de presos”.

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