quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Estado de São Paulo revela gravação em que Colbert manda assessora "não cancelar dinheiro" para obras de interesse de Sarney

Foi revelada nesta quinta-feira (11/08), em reportagem de Leandro Colon, enviado especial de O Estado de S.Paulo ao Amapá, uma conversa do secretário nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo, Colbert Martins, através de escuta telefônica, em que ele “manda a assessora prestar atenção e não cancelar dinheiro para obras de interesse do senador José Sarney para não dar mais confusão”. Preso na “Operação Vaucher”, Colbert se refere “àquela obra lá do Amapá, daquela confusão do mundo todo, que é interesse do Sarney”. Leia, a seguir, o texto sobre o assunto.

Secretário manda segurar projeto de Sarney para não dar ‘mais confusão’

O esquema fisiológico e fraudulento que regia a assinatura de convênios e liberação de dinheiro no Ministério do Turismo aparece nas investigações da Operação Vaucher cuidando para não prejudicar os interesses de ninguém menos que o senador José Sarney (PMDB-AP), padrinho da indicação de Pedro Novais para o comando da pasta. Em uma gravação da PF, feita com autorização judicial, o secretário Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo, Colbert Martins, manda a assessora prestar atenção e não cancelar dinheiro para obras de interesse de Sarney para não dar “mais confusão”.

Colbert foi preso anteontem. Na conversa, na tarde do último dia 28 de julho, ele disse à secretária: “E tem que ver aquela obra lá do Amapá, aquela lá da Fátima Pelaes, daquela confusão do mundo todo que é interesse do Sarney. Tá certo? Que, se cancelar aquilo, aquilo tá na bica de cancelamento, enfim, algumas que eu sei de cabeça, assim. Cancela aquela, pega Sarney pela proa, já vai ser mais confusão ainda, ok?”. O telefonema entre Colbert e a assessora começou às 16h57 e durou 5 minutos e 13 segundos.

A deputada Fátima Pelaes é do PMDB do Amapá, partido de Sarney e Estado que ele representa no Senado. Ela é a autora de duas emendas, uma de R$ 4 milhões e outra de R$ 5 milhões, para o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi), entidade fantasma alvo da operação policial que prendeu 35 pessoas anteontem. De acordo com a investigação, a entidade recebeu os recursos, mas desviou o dinheiro e não executou os projetos.

Ao comentar num relatório sigiloso o teor da conversa entre Colbert e a assessoria, a Polícia Federal afirma: “Abadia, assessora de Colbert, fala sobre o cancelamento de convênios (com dinheiro de restos a pagar) de 2007, 2008 e 2009 que ainda não iniciaram. Colbert afirma que precisa analisar os de 2009 para decidir quais serão realmente cancelados, citando alguns exemplos, entre eles o Amapá 2, dizendo que seria problemático cancelar, pois seria do interesse de Sarney”. E continua: “Conclui-se, assim, que o período analisado ajudou a desvelar os motivos pelos quais os funcionários do Ministério do Turismo não acompanharam devidamente a execução do convênio sob investigação, deixando ocorrer várias irregularidades em sua execução.”

A Polícia Federal não especifica qual seria o contrato “Amapá 2”, que seria do interesse do senador José Sarney. O inquérito da PF foi aberto após identificar fraudes num convênio de R$ 4 milhões do Ministério do Turismo com o Ibrasi, oriundo de emenda da deputada Fátima Pelaes, para “capacitação de profissionais” do Turismo.

Um outro, também por emenda dela, tem o valor de R$ 5 milhões e foi assinado para “Implantação de processos participativos para Fortalecimento da Cadeia Produtiva de Turismo do Estado do Amapá”. Este contrato foi assinado por Frederico Silva da Costa, atual secretário executivo do ministério e que também foi preso pela PF. Na época, ele era Secretário Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo, cargo ocupado hoje por Colbert.

Leandro Colon, enviado especial de O Estado de S.Paulo

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