Indignado com a posição adotada pelo governador Jaques Wagner, para com a classe, um policial Militar de Feira de Santana encaminhou, na noite desta segunda-feira (06/02), para diversos meios de comunicação, carta de desabafo ao povo baiano.
Os PMs da cidade mantem a greve até que o governo do estado acate às solicitações pedidas pelas associações da classe.
Carta de um Policial Militar
Sou um Policial Militar da Bahia. Faço parte de milhares de pessoas que sonham com uma vida digna. Para muitos, não passamos de profissionais ineficientes e corruptos agindo como vândalos e baderneiros nesse momento crítico de greve. Entretanto, gostaria de relatar aqui que a corporação que, conforme dizem com frequência é paga pelo povo, é também ela composta de povo. Sim, os policiais militares também são povo, também pagam seus impostos e também querem ter uma vida decente.
O atual governador, Jaques Wagner, também já fez parte de movimentos grevistas que, de modo generalizado, possuíam objetivos semelhantes para diversas classes. Agora, esse político que chegou ao poder votado pela massa policial militar sedenta por melhorias, mostrando o contracheque e as condições de trabalho da classe em campanha política, utiliza a ideia de que militares não podem fazer greve para explorar e massacrar todo um segmento de trabalhadores essenciais para a sociedade. Nega-lhes a remuneração que por lei é direito há anos. Compra a parte suja da imprensa que mostra à população falsas estatísticas, relegando os grevistas que somam quase todos os policiais do estado a um mero “grupo de vândalos”. Mostra um salário irreal, visto que a remuneração apresentada trata-se de um valor bruto, ainda não descontados os impostos.
Muitas são, cotidianamente, as situações em que o Policial Militar é obrigado a sair em patrulhamento com viaturas em estado deplorável de conservação, muitas vezes tendo que ser empurradas para funcionar, com rádios que não funcionam, material bélico insuficiente e igualmente sem manutenção, tendo que compartilhar coletes suados do turno anterior porque não possuem material individual. E agora são chamados de vândalos os policiais que supostamente furaram os pneus de viaturas para tentarem, de uma vez por todas por um fim nessa situação. Ora, e não seria vandalismo constante e diário a falta de assistência do governador para com a estrutura logística, tecnológica e de formação profissional utilizados na Polícia Militar da Bahia? Não seria também violência que um policial não receba auxílio acidente quando sofrido em serviço, ainda que haja uma lei que garanta tal benefício? Não seria violência não receber insalubridade por perder inúmeras noites em serviço, carregar quilos de proteção no corpo, muitos passando todo o dia sobre motos, sobrecarregando sua coluna e pernas, comprometendo sua circulação sanguínea? Não seria violência que um policial, encontrando-se na junta médica, quando mais precisa de dinheiro para tratar sua saúde sem comprometer o sustento da família tenha sua remuneração reduzida? Vamos pensar um pouco nisso...
Agora o governador exala sua vaidade exigindo a prisão de Marco Prisco. Porém, Prisco é um líder nato, e onde estiver é capaz de fazer seguidores não somente por sua inteligência, mas sobretudo por falha e negligência do próprio sistema político desse país. O movimento grevista não é de Prisco, é dos Policiais Militares. E se tomou tais proporções, gerando tantos prejuízos à sociedade baiana, não foi à toa. É como uma bexiga de ar que de tanto inflar, acaba estourando. Muitas foram as tentativas de atendimento aos direitos dos policiais, a exemplo do movimento legal deflagrado em 2009. Mas o governo não agiu com hombridade, ignorando tais reivindicações, de modo que o efetivo cansou de ser humilhado. Agora, o ministério da justiça tenta sufocar covardemente o movimento isolando famílias inteiras até que desistam de lutar por seus direitos por sede, fome, medo e cansaço. E os policiais é que são os vândalos.
Se a população sempre amargou uma segurança pública fajuta e ineficiente por motivos como falta de recursos e de estrutura, falta de formação profissional adequada ou até mesmo por profissionais desonestos - o que sobra entre os nossos governantes que já nadam em dinheiro -, agora talvez possa ter mais um motivo: revolta. E, sem sombra de dúvidas, o nosso.
Um comentário:
Eu me sinto lesado, ou seja roubado pelo meu proprio patrão. Ainda reeintero aqui que viaturas sem freio de mão, sinalização, buzina e amortecedores comprometem tanto nossas vidas quanto a vida da população. Seria mais honrosso, parar a viatura e ir para um policiamento a pé até que se corrigisse os problemas. Mas acredito que o erro nasce em nós apartir do momento que concordamos trabalhar sem condições.
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