sexta-feira, 3 de agosto de 2012

PM afasta 16 policiais após mortes de jovens na Saramandaia



O comando da Polícia Militar afastou das ruas 16 homens presentes na operação na Saramandaia que resultou na morte de dois jovens, segunda-feira à noite. Os policiais vão realizar serviços administrativos até o fim da apuração das mortes. 

De acordo com a PM, equipes da 1ª Companhia Independente e da Rondesp foram até Saramandaia averiguar uma denúncia de que bandidos realizavam uma festa com drogas e impuseram toque de recolher. Então, ainda segundo a PM, os policiais foram recebidos a tiros e revidaram.  

Moradores do bairro, porém, acusam os policiais de matarem dois inocentes: o estudante Alexandre Oliveira da Silva, 14 anos, e o servente Rafael Muniz Barreto, 19. 

Na manhã de terça, um protesto travou a Avenida ACM. Na tarde de ontem, moradores da Saramandaia fizeram uma nova manifestação, que só foi encerrada após a marcação de uma reunião hoje com o comandante-geral da PM, coronel Alfredo Castro, no Quartel dos Aflitos.  

Sindicância Segundo o capitão Marcelo Pita, do Departamento de Comunicação da PM, uma sindicância foi aberta para apurar o caso. “Não temos de forma oficial a denúncia dos moradores, então abrimos uma sindicância”, disse. Segundo ele, o PM que ficar à frente da apuração vai ao bairro em busca de informações. 

Dos PMs afastados das ruas, oito são lotados na 1ª CIPM (Pernambués) e os oito restantes integram a Rondesp-Central. A instituição não divulgou o nome dos policiais. 

“Ainda não temos certeza do que aconteceu. Nossa obrigação é apurar. Por isso não vamos revelar os nomes”, explicou Pita. “O afastamento é uma forma de preservar a comunidade e os PMs que trabalham naquele ambiente enquanto apuramos”. 

O capitão Pita informou ainda que dois oficiais que comandavam as equipes na operação já foram ouvidos. O teor dos depoimentos não foi divulgado. O prazo para que a sindicância seja finalizada é de 20 dias e se for confirmado abuso poderá ser aberto um processo administrativo ou um Inquérito Policial Militar. 

Enquanto isso, os PMs afastados vão trabalhar na “sala de meios”. “É a sala que disponibiliza os equipamentos de quem vai pra rua, despacho de viaturas, telefonia, entre outros”, descreveu Pita. 

O oficial disse também que as armas e drogas que teriam sido apreendidas com os jovens mortos - e que não foram apresentadas publicamente - foram encaminhadas para perícia no Departamento de Polícia Técnica (DPT). 

Revolta No protesto de ontem, um PM foi apontado por moradores como um dos participantes da operação de segunda-feira. “Se foram afastados, o que aquele assassino faz aqui?”,  bradou um homem. Sem identificar o policial apontado, o comandante da 1ª CIPM, major Jailson Damasceno, afirmou que ele era motorista da corporação. 

Boa parte dos participantes da manifestação saiu direto do enterro do corpo de Alexandre, na Baixa de Quintas (ler boxe na página ao lado), para protestar na Avenida ACM. “Queremos justiça. Só saímos daqui com a chegada da Corregedoria da PM e do Ministério Público”, chegou a dizer um jovem. 

Por volta das 16h15, troncos e galhos de árvores, pneus, sacos de lixo e cocos foram jogados na via, em frente ao Detran, sendo incendiados. 

Policiais da 1ª CIPM chegaram minutos após a barreira ser montada. Então, filmaram e fotografaram os manifestantes, muitos deles menores, que escondiam os rostos com camisas e provocavam os PMs com muitos xingamentos. 

Assim como na manhã de terça-feira, os manifestantes afirmaram ontem que os jovens mortos estavam assistindo a um baba no Campo da Horta, quando os policiais chegaram atirando. 

“Meu filho era estudante. Foi comprar o pão e morreu. Tudo que eu quero é justiça. Que quem fez isso com meu filho pague”, disse a mãe de Alexandre, Jaciene Oliveira.  

Depois de aproximadamente uma hora de protesto, a própria Jaciene pediu o fim da manifestação, ao receber do major Damasceno a informação de que o comandante-geral estaria disposto a conversar com uma comissão de moradores do bairro.

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