Operação mata em Camaçari homem apontado como chefe
do tráfico de Cosme de Farias: Titanic. Irmão do suspeito e outro comparsa
também foram mortos. Ação contou com mais de 200 policiais e deixou clima tenso
no bairro
Para o Titanic afundar,
bastou um iceberg no caminho. Para destruir o poder do traficante Titanic e de
toda a sua esquadra, foram necessários mais de 200 policiais civis e militares
e uma operação especial, a Destroyer, deflagrada na madrugada de ontem, no
bairro de Cosme de Farias e em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador
(RMS).
Com seu bando, a versão soteropolitana do Titanic tocava o terror em Cosme de
Farias. Tiago Guimarães Pinto, ligado à facção Comando da Paz, era apontado
pela polícia como o líder do tráfico no bairro e suspeito de envolvimento em
cerca de 30 homicídios.
Tiago,
que há duas semanas havia alugado uma casa em Camaçari, foi morto no imóvel
durante uma troca de tiros com a polícia. De lá, ele comandava o
tráfico, segundo as investigações. Seu irmão, Jacson Guimarães Pinto, e Diogo
dos Santos também morreram no confronto em Camaçari.

Na ocasião, informou a
polícia, Tiago ordenou a morte de Leandro Alves Pereira, 28. Ele estava em casa
com a namorada, Camila Arruda, 18, e o filho dela, Cauan, de 1 ano e 10 meses.
Todos foram atingidos pelos tiros e o bebê morreu.
“Leandro cometeu um homicídio na segunda-feira, matou um parente de Sandro. Foi
uma retaliação”, explicou, fazendo menção à morte de Vinicius dos Santos
Monteiro. Na mesma noite, Leandro também teria baleado Rubens Santos da Luz.
A polícia ainda atribui a Titanic e seu bando crimes como o assassinato da
líder comunitária Cleonice Cardoso da Silva, 46 anos, no mês passado. Eles
também seriam responsáveis pela morte do lavador de carros José Carlos dos
Santos, 43, executado na Avenida Bonocô no dia 1º deste mês. “Ele (José) era
usuário de drogas e devia a Tiago”, afirmou Carneiro.
O delegado também revelou que dois jovens presos, no mês passado, como autores
do crime contra Cleonice não tiveram envolvimento com a morte. “Eles continuam
presos, porque são acusados de tráfico de drogas”.

Operação
A Operação Destroyer, que durou cerca de sete horas, cumpriu 13 mandados de
prisão, expedidos pela 1ª Vara de Tóxicos e pelo 1º Juízo da 2ª Vara de
Tóxicos. Um deles era destinado a Titanic.
Às 5h de ontem, a polícia cercou a casa de Titanic em Camaçari. “Como
intensificamos a presença da polícia em Cosme de Farias, ele foi para
Camaçari”, disse o delegado Daniel Menezes, também da DHM.
Segundo ele, Tiago, Jacson e Diogo estavam dentro da casa. “Quando cercamos o
fundo, eles não tiveram como sair. Reagiram, mas acabaram mortos”, contou
Menezes. Enquanto isso, em Cosme de Farias a busca por outros membros da
quadrilha já estava em curso. Durante toda a manhã, a polícia bateu de porta em
porta.
Para o tenente Hianderson Ribeiro, comandante da Rondesp Atlântico, o sucesso
da ação veio da ajuda dos moradores. “A população vivia refém. Titanic
comandava a região através do terror. Qualquer morador que fizesse oposição era
assassinado”.
Das janelas das casas, os moradores acompanhavam o movimento. Com medo de
represálias, ninguém quis falar sobre a operação. Durante a ação, um traficante
identificado apenas co mo “Tosca” conseguiu fugir mesmo ferido. Por isso, a
polícia informou que está monitorando os hospitais.
Ainda de acordo com o delegado Daniel Menezes, a Polícia Militar continuou a
ocupação ostensiva em Cosme de Farias, após a operação. Além da DHM e da
Rondesp PM, a ação envolveu o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa
(DHPP), o Departamento de Narcóticos (Denarc), Companhia de Operações Especiais
(COE) e equipes das Operações Apolo e Gêmeos da PM.
‘O negócio de Titanic era matar’, afirma major da PM
“Com ele, ninguém sobrava em pé. O negócio dele era matar”. Foi assim que o
major Saulo Roberto, comandante das Rondas Especiais da Polícia Militar definiu
Tiago Guimarães Pinto. E, segundo o major, esse era o motivo para Tiago ser
chamado de Titanic. “Ele agia com atrocidade. A população estava encurralada.
Bastava que ele achasse que a pessoa tinha ligação com a polícia, que mandava
matar”, comentou.
Titanic, que não teve a idade confirmada, estava na mira da polícia há dois
anos, mas só assumiu o comando do tráfico em Cosme de Farias há um ano, de
acordo com o delegado Daniel Menezes, da Delegacia de Homicídios Múltiplos
(DHM). Ele comandava um grupo com cerca de dez pessoas - que, segundo a
polícia, é ligado ao Comando da Paz. “Ele foi escolhido do presídio. A essa
altura, os presidiários já devem estar escolhendo quem vai assumir depois
dele”.
Ainda segundo Menezes, Titanic cobrava “pedágio” dos moradores de Cosme de
Farias. “Se alguém tivesse um comércio, ele comia sem pagar. Se tivesse um
mercado, ele mandava fazer compras sem pagar. Também ameaçava comerciantes que
tivessem câmeras de segurança. Elas tinham que ficar desligadas, porque, se
registrassem um crime, a polícia não teria acesso”, explicou o delegado.
Também era comum que o traficante atirasse contra casas de policiais e contra
viaturas. “Ele era um psicopata, que não tinha peso na consciência. Atirava em
pessoas à luz do dia. Não importava nem que tivesse criança por perto. As
mortes serviam para ele mostrar força. Mas ele também matou gente que não
tinha nada a ver com o tráfico, como a líder comunitária, porque achava que ela
era informante da polícia”, disse, referindo-se a Cleonice Cardoso da Silva,
46, morta em janeiro, em sua casa.
Ainda segundo Daniel Menezes, os traficantes da quadrilha de Titanic vivem em
disputa com uma quadrilha de Campinas de Brotas. “São duas facções no presídio.
Aqui fora, elas disputam também. Se uma se bater com a outra, eles se matam”,
afirmou. Entretanto, o delegado evitou dar mais detalhes sobre a facção rival e
sobre a disputa territorial na região.
Corpo de bebê sepultado após ataque em casa
Foi sepultado, ontem, o corpo do bebê Cauan Neri Cruz, de 1 ano e 10 meses,
baleado em casa, na quarta-feira, junto com a mãe, Camila Arruda, 18, e o
padrasto Leandro Alves Pereira, 28. O menino foi atingido no abdômen e não
resistiu. De acordo com a polícia, Dênis Mercês e Sandro Júnior, dois dos
homens presos ontem como integrantes da quadrilha de Titanic, participaram do
ataque na casa de Leandro, em Cosme de Farias, que resultou na morte de Cauan.
Durante o sepultamento, no Cemitério Campo Santo, parentes da criança e
amigos da família chegaram a passar mal. Dentre eles, o pai biológico de Cauan,
o encanador Joeliton da Silva Cruz, que estava em Recife quando tudo aconteceu.
De acordo com a assessoria da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), o
estado de saúde de Leandro e Camila é considerado estável.
Eles estão no Hospital Geral do Estado (HGE). Segundo Maria de Lourdes Arruda,
mãe de Camila, a jovem estava grávida de dois meses, mas perdeu o filho após
ser atingida pelos tiros. A Sesab não confirmou a informação.
Além disso, a assessoria do órgão declarou que é muito cedo para confirmar
outra informação passada pela família da jovem, de que ela ficará paraplégica.
Entre os parentes de Camila, a tese é de que o ataque foi encomendado pela
ex-mulher de Leandro, de quem ele está separado há mais de um ano.
Além disso, em Cosme de
Farias, oito membros do grupo foram presos: Jucicleide Silva de Jesus, 25, Éder
Gonzaga de Jesus Santos, 21, Dênis Apolônio Mercês, 22, Diogo Rocha Carvalho,
23, Edielson dos Santos Gomes, 22, Sandro Ferreira Ventura Júnior, 20, Lucas
Silva dos Santos, 21, e Leandro dos Santos Silva, 20.
Dois adolescentes foram apreendidos e encaminhados à Delegacia do Adolescente
Infrator (DAI). Foram apreendidos ainda 13 quilos de maconha, cocaína e crack,
mais de 30 celulares, duas pistolas de calibres 9mm e .40 e dois revólveres de
calibres 32 e 38.
Um mês “Fizemos a operação simultaneamente em Cosme de Farias e Camaçari, para
combater focos de organizações criminosas. Foi o resultado de
investigações dos últimos 30 dias, com a população se queixando da opressão da
quadrilha”, explicou o delegado Odair Carneiro, titular da Delegacia de
Homicídios Múltiplos (DHM).
Segundo ele, a operação não estava prevista para ontem. “Mas, depois do
incidente de ontem (quarta), resolvemos antecipar, já que houve um alto índice
de violência”, disse, referindo-se a um crime registrado em Cosme de Farias.
Informações Victor Lahiri e
Thais Borges e fotos de Mauro Akin do CORREIO 24 HORAS